Thursday, July 31, 2008

Ainda via piorar antes de melhorar

O tempo passa mais devagar quando estamos longe de casa, longe dos nossos e do que nos é familiar. As coisas do dia-a-dia não têm o mesmo sabor e tudo nos parece mais cinzento e sem graça.

Sei que tudo vai parecer pior, muito pior, antes de parecer melhor, mas agora que sei que pelo menos ela estará em breve a meu lado, tudo parece mais suportável.

Início

Cheguei a Angola quase há 1 ano e no entanto continuo a surpreender-me diáriamente...
Este é um país quase imperfeito, onde as dictomias se repetem e o improvável é que ocorra o mais provável. Mesmo a velha máxima de "Tudo o que possa correr mal, correrá mal" pode ser quebrada apenas para contrariar, por um mero capricho, logo para ser levada ao extremo, servindo como base para a sustentação da tese. É o país da poeira eterna, do tempo infinito e dos mais bizarros acontecimentos.
Estamos em África, mas por vezes não parece, não estamos na Europa, mas há alturas em que nem notamos.
Angola é um país dilacerado pela guerra. Ainda assim é um país de oportunidades, de refúgio para milhares de nós, tugas desíludidos e abandonados pelo acaso de não nos resignarmos a um rumo de caminho certo para a desgraça, e como tal, Angola é agora a nossa casa, ainda que emprestada e como chove cá dentro e como se o senhorio não proceda a reparações, temos nós que reparar o telhado e as fundações que entretanto apodreceram e o soalho que levantou e pintar as paredes que entretanto descacaram e esperar que ao nosso regresso tenhamos deixado um lar para outros.

Somos a nova vaga de emigrantes, nós com formação superior, pós-graduações e mestrados, MBA's e especializações, anos de serviço em empresas tugas e ainda assim sem a progressão salarial almejada. Somos a mais preocupante vaga de emigração da nossa história, pois somos os melhores que a tuga tem e ainda assim o país parece apático, adormecido, não se dando conta que caminha para o abismo. Seremos o mesmo que os que nos antecederam, embaixadores da nossa pátria e de nós próprios, almejamos o mesmo que os que vieram antes de nós, o sucesso e a prosperidade, e como os que nos antecederam, muitos de nós jamais voltarão, deixando coxo o país, órfão de recursos que formou e vendeu ao desbarato.
Continuaremos a visitar a tuga enquanto pudermos... cada vez menos. As nossas remessas continuarão a equilibrar a balança... até ao dia em que os nossos rendimentos tenham um destino noutro país. Continuaremos a considerarnos Portugueses... até ao dia em que digamos BASTA.
E o país que pensa de nós? Será que de facto se lembra sequer que estamos por aí?