Já lá vai mais de um ano desde que cheguei a Angola, mas lembro-me muito bem da minha 1.ª impressão deste país.
Julgo que na altura resumi tudo a um lugar comum - Isto é África!
Já viajei o suficiente por este mundo para saber que todas as culturas têm as suas especificidades e que não devemos julgar os outros pelas 1.ªs impressões, pelo que na altura não fiquei tão chocado como outros que cá chegam.
Já visitei países em guerra, como o Sri Lanka e outros que haviam saído de guerras há bem pouco tempo, como o Cambodja, e o trânsito de Luanda não incomodaria muitos Indonésios ou Tailandêses, ainda que lhes estranhasse a falta de motorizadas, tão pouco a lentidão de processos é estranha a quem tenha estado no México ou na região fronteiriça do Haiti com a R.D., mas a verdade é que nunca tinha conhecido um país que combinasse tantos aspectos que conotamos como negativos e ao mesmo tempo nos recordasse tanto de Portugal.
A chegada da Sofia a Angola serviu para recordar todo o processo, pois até agora ela só conhecia o que ouvia de mim e de outros amigos que por cá andam e desde Sábado temos vindo a comentar tudo como se fosse a 1.ª vez... tanto para ela, como para mim.
Mas a memória é curta, como sabemos, e a verdade é que a chegada da Sofia tem servido para recordar a minha chegada há pouco mais de um ano e a precepção de uma verdade inegável - há pouco mais de um ano o Lobito estava pior; Benguela estava pior; Luanda estava pior; as comunicações estavam pior; o país estava pior. Pode até ser que Lisboa tenha 10 vezes mais budget de construção que Angola inteira, pode até ser que o investimento em Angola na reconstrução Nacional seja diminuto face às necessidades, mas também ninguém pode negar que aos poucos este país está a mudar e a transformar-se em algo melhor.
Angola tem um caminho longo pela frente, ao contrário do que se diz por aí, Angola não é um país rico, a verdade é que Angola é um país pobre e subdesenvolvido, o que Angola tem é potêncial... muito potêncial, mas meia dúzia de estradas não resolve o problema; meia dúzia de edifícios novos não resolve o problema; o que resolve o problema é uma continuada aposta em Angola, nas suas gentes e na formação das gerações vindouras.
Para terminar este post, deixo uma ideia para reflectir - Angola tem-se desenvolvido nos últimos anos com taxas de crescimento sempre de dois dígitos, mesmo retirando os efeitos do petróleo. Por outro lado Portugal estagnou, com taxas de crescimento a rondar os 2,5%-3%. No entanto, se Portugal deixasse de crescer, demoraria à volta de meio século para que Angola chegasse ao nível de desenvolvimento de Portugal. Se Angola e os Angolanos conseguem ver um futuro auspicioso apesar disto, se os Angolanos conseguem ter orgulho na sua Nação, se os Angolanos conseguem reconhecer a evolução e o desenvolvimento... porque não conseguem os Portugueses? Será que ninguém se lembra do que era Portugal na década de 70? Será que não estamos agora muito melhor do que estávamos apenas há 10 anos atrás?
Então vamos deixar o discurso pessimista e fatalista e vamos todos assumir que para ser ainda melhor, Portugal precisa acima de tudo que façamos o nosso melhor e nada mais.