Viver no Lobito com uma criança...

Recebi esta semana um comentário em forma de pergunta e senti-me compelido a responder.

Uma leitora do Expatlobito, que tem a possibilidade de vir em breve para o Lobito, perguntava como estão as coisas por cá, apresentando as dúvidas do costume (segurança à cabeça), às quais se adicionava uma outra que me é muito próxima - a leitora tem uma menina de 2 anos e talvez esta seja a sua principal preocupação.

Não sei ao certo se sou a pessoa ideal para responder a esta última preocupação, uma vez que também eu vou ter uma filhota dentro de poucos meses e esse facto levou a alterar os planos de vinda da Sofia para cá.

Mas vamos então à resposta concreta às dúvidas da leitora (já agora, o nome é Teresa):

Vou partir do pressuposto que a Teresa vem juntar-se ao marido que por cá anda há já algum tempo, ou que vêm os dois com a menina e um contracto familiar para uma qualquer empresa Tuga ou Angolana (sou economista, pelo que se torna uma necessidade básica assumir pressupostos). A primeira coisa que tenho a dizer é que isto é uma tremenda seca para quem não trabalhe. Não há absolutamente nada a fazer! Não há shoppings, cinemas ou afins, pelo que sobra ir à praia, acordar tarde ou aprender a tricotar.

Por outro lado, ao contrário de Luanda, tanto o Lobito como Benguela são extremamente seguros. Sinto-me tão seguro em matéria de assaltos como me sentiria em Aveiro ou Viseu... talvez um pouco mais até.

Em relação a cuidados de saúde, a Provincia está mal servida. Em Luanda, para quem puder pagar uma clínica privada, já se encontra quase tudo, mas o que preocupa verdadeiramente é uma urgência... aí, temos que admitir que ainda há muito por fazer em Benguela/Lobito.

Uma das coisas boas do Lobito é de facto a possibilidade de podermos andar livremente. A bicicleta e a corrida matinal, ao contrário de Luanda, são possíveis e a praia é um must.

Há algo mais que deve ser sempre dito nestas circunstâncias - nunca nos devemos esquecer que Angola não é Europa... é um país com cultura e costumes diferentes. Não estou a dizer que é melhor, ou pior, é apenas diferente. E o que damos como certo na Tuga deve ser esquecido. É natural que falte a luz durante dias a fio. É natural que não corra água nas torneiras durante o mesmo período, é natural que nem sempre haja aquilo que queremos no supermercado, mas isso faz parte de um país em reconstrução e mais ainda, faz parte de um país que não vive, nem pode viver em função dos estrangeiros. Se falta o yogurte, paciência. Se não há azeite, azar.

Mas Angola tem também muito a oferecer e o saldo depende sempre da forma como encaramos esta experiência. No que me toca a mim, nunca me dei por mim arrependido da minha opção... a minha única mágoa é estar longe da minha mulher 9 meses por ano e não ver a sua barriguinha crescer, não sentir os pontapés da minha menina na barriga dela e não poder chegar a casa ao final do dia, encostar-me a ela e perguntar como correu o seu dia.