Wednesday, November 12, 2008

Angola, 1.ª Impressão

Já lá vai mais de um ano desde que cheguei a Angola, mas lembro-me muito bem da minha 1.ª impressão deste país.
Julgo que na altura resumi tudo a um lugar comum - Isto é África!
Já viajei o suficiente por este mundo para saber que todas as culturas têm as suas especificidades e que não devemos julgar os outros pelas 1.ªs impressões, pelo que na altura não fiquei tão chocado como outros que cá chegam.
Já visitei países em guerra, como o Sri Lanka e outros que haviam saído de guerras há bem pouco tempo, como o Cambodja, e o trânsito de Luanda não incomodaria muitos Indonésios ou Tailandêses, ainda que lhes estranhasse a falta de motorizadas, tão pouco a lentidão de processos é estranha a quem tenha estado no México ou na região fronteiriça do Haiti com a R.D., mas a verdade é que nunca tinha conhecido um país que combinasse tantos aspectos que conotamos como negativos e ao mesmo tempo nos recordasse tanto de Portugal.
A chegada da Sofia a Angola serviu para recordar todo o processo, pois até agora ela só conhecia o que ouvia de mim e de outros amigos que por cá andam e desde Sábado temos vindo a comentar tudo como se fosse a 1.ª vez... tanto para ela, como para mim.
Mas a memória é curta, como sabemos, e a verdade é que a chegada da Sofia tem servido para recordar a minha chegada há pouco mais de um ano e a precepção de uma verdade inegável - há pouco mais de um ano o Lobito estava pior; Benguela estava pior; Luanda estava pior; as comunicações estavam pior; o país estava pior. Pode até ser que Lisboa tenha 10 vezes mais budget de construção que Angola inteira, pode até ser que o investimento em Angola na reconstrução Nacional seja diminuto face às necessidades, mas também ninguém pode negar que aos poucos este país está a mudar e a transformar-se em algo melhor.
Angola tem um caminho longo pela frente, ao contrário do que se diz por aí, Angola não é um país rico, a verdade é que Angola é um país pobre e subdesenvolvido, o que Angola tem é potêncial... muito potêncial, mas meia dúzia de estradas não resolve o problema; meia dúzia de edifícios novos não resolve o problema; o que resolve o problema é uma continuada aposta em Angola, nas suas gentes e na formação das gerações vindouras.

Para terminar este post, deixo uma ideia para reflectir - Angola tem-se desenvolvido nos últimos anos com taxas de crescimento sempre de dois dígitos, mesmo retirando os efeitos do petróleo. Por outro lado Portugal estagnou, com taxas de crescimento a rondar os 2,5%-3%. No entanto, se Portugal deixasse de crescer, demoraria à volta de meio século para que Angola chegasse ao nível de desenvolvimento de Portugal. Se Angola e os Angolanos conseguem ver um futuro auspicioso apesar disto, se os Angolanos conseguem ter orgulho na sua Nação, se os Angolanos conseguem reconhecer a evolução e o desenvolvimento... porque não conseguem os Portugueses? Será que ninguém se lembra do que era Portugal na década de 70? Será que não estamos agora muito melhor do que estávamos apenas há 10 anos atrás?
Então vamos deixar o discurso pessimista e fatalista e vamos todos assumir que para ser ainda melhor, Portugal precisa acima de tudo que façamos o nosso melhor e nada mais.

3 comments:

Anonymous said...

ola amigo Godinho!
vejo q se estar a dar bem por essas terras africanas!!!
queria pedir-lhe a sua opiniao sincera sobre lobito e angola em geral,ja queestou seriamente a pensar em uma a vertura por ai.
a minha esposa nasceu em angola,e embora nao conheca nada dai ainda tem alguns familiares que dizem que se consegue viver muito bem por ai,mas tenho algumas duvidas sobre a seguranca e principalmente cuidados medicos ja que tenho 2 filhos pequenos.
gostava de montar 1 pizzaria ou algo do genero,ja que tenho 1 em portugal.
de qualquer forma obrigado em antecedencia e 1 abraco da ilha da madeira!!!
nuno

Anonymous said...

"Será que não estamos agora muito melhor do que estávamos apenas há 10 anos atrás?"
Se pensa assim, porque motivo, sendo ainda jovem, foi trabalhar para aí?
Por outro lado, de que modo acha possível ajudar a melhorar a situação do nosso País, encontrando-se a trabalhar fora dele?


Marfim

Godinho said...

Vamos por partes, 1.º em relação à pizzeria e aos meninos:
- O negócio da restauração parece-me bastante rentável aqui em Angola e o Lobito/Benguela não são excepção. Parece evidente que as regiões mais desenvolvidas neste momento são Luanda, Benguela/Lobito, Huambo e Lubango, pelo que a apostar em negócios apostaria numa destas áreas.
Destas zonas, apenas Luanda apresenta problemas de segurança, mas Lisboa também e ninguém questiona isso quando se muda para lá.
Cuidados de saúde... isso sim, é um problema. Luanda conta já com várias clinicas privadas altamente equipadas e com bons profissionais de saúde, mas são extremamente caras! Cá por baixo o panorama é mais pobre e a qualidade duvidosa.
Para casos mais graves uma deslocação a Luanda pode ser necessária e em último recurso a Portugal.

2.º - Portugal não está melhor que há 10 anos atrás? Se calhar sou eu que estou enganado, mas o PIB não parou de subir neste período, os Portugueses compraram casas, bons carros e agora até fazem férias no estrangeiro... As vias de comunicação estão melhores e todas as estatísticas apontam para um facto inegável, não só temos mais poder de compra (em média) do que há 10 anos, como temos mais oferta.
E porque vim eu tão novo trabalhar para fora? - 1.º gostaria de dizer que não emigrei, sou um expatriado. Fi-lo por gosto de uma nova experiência e por progressão mais célere na carreira; 2.º sou uma excepção no panorama de expatriados em Angola porque não trabalho numa empresa Portuguesa, mas todos os outros que por cá andam fazem muito pelo nosso país, pois fazem parte daqueles que geram riqueza para Portugal através do investimento directo no estrangeiro em mercados de alta rentabilidade, garantindo assim os empregos que os outros ocupam sem o sacrifício do expatriamento em Portugal.
3.º ainda que seja inegável que Portugal esteja melhor hoje que no passado, não estará certamente melhor para todos e o momento não é fácil. Se depositar o meu salário todos os meses em Portugal não chegar para ajudar, talvez o facto de ao meu regresso ser um melhor profissional sirva para alguma coisa.
Mas o importante no meu post não era isto, mas sim a mensagem de fim à profecia da desgraça que vai caracterizando o nosso povo. O fim do discurso da tanga que até já infectou os nossos governantes.